autoconhecimento
Por que dizemos que algo deve existir além desta vida?
Sabendo inevitável a morte, a maioria de nós tem fé na reencarnação, na ressurreição, ou noutra forma de continuidade após a morte, porque o que desejamos é só a continuidade; assim sendo, a crença, a fórmula, a esperança, o dogma têm, por sua vez, enorme influência em nossa vida. Não estamos interessados no fato que é a morte, porém só nos interessa saber se há vida após a morte. Dizemos: "Que adianta lutar, cultivar a virtude, tentar tornar-nos divinos (sabeis com quantas ninharias nos ocupamos) para acabar morrendo?" Por esta razão, dizemos que algo deve existir além desta vida.
Ora, que é este "algo" que desejamos continue a existir? Compreendeis? Com palavras diferentes, em diferentes esferas, esperanças de variada natureza, etc., as religiões de todo o mundo prometem uma certa espécie de continuidade após a morte. Mas, abstraindo de tudo isso, que é que desejamos continue a existir? Nossa vida de cada dia, não? A vida que conhecemos. E que é essa vida que conhecemos? É a vida de companhia, a vida de torturas, incertezas, esperanças, de cada dia; a agonia do isolamento, as disputas, a assiduidade ao escritório, dia após dia, durante trinta ou quarenta anos; a pequenina mente que possuímos, a vida condicionada, o prazer de viajar e ver coisas novas; a doença, a dor, o vazio, o tédio de nossa existência — eis tudo o que conhecemos.
Ora, que é isso a que estamos tão desesperadamente apegados? É, evidentemente, a memória das coisas passadas. Mas, não é horrível percebermos que estamos apegados a algo já passado, ido, acabado, morto? É só isso o que conhecemos e por isso lhe estamos apegados. Estamos apegados ao conhecido. Nosso caráter, nossos livros, os quadros que pintamos, as experiências, os prazeres e ansiedades que tivemos, nossos velhos sentimentos de culpa — tudo isso pertence ao passado, a que estamos aferrados. É só o que conhecemos e queremos que subsista após a morte. Se perdi minha mulher, desejo reencontrá-la no além, etc. O que tememos, pois, é perder o conhecido, ou seja, o passado — o passado, que atravessando o presente, cria o futuro; a isso é que estamos apegados.
(...) Ora, quando nos apegamos a uma coisa passada, já estão mortos a nossa mente, o nosso coração, o nosso ser inteiro. Ainda que se trate de um profundo deleite, um intenso prazer, se a isso nos apegamos, nossa mente se torna uma coisa pequenina e feia, incapaz de viver realmente. Assim é nossa vida. Porque tememos o findar desta nossa chamada "vida", inventamos ou esperamos uma continuidade após a morte. Mas, quando uma pessoa está consciente de tudo isso e de não mais fugir; quando está olhando, observando, escutando, percebendo, sem escolha, tudo o que se passa em seu interior — vê-se, então, frente-a-frente com a questão da morte, que, em verdade, é o desconhecido. Não conheceis a morte; a seu respeito só tendes meras ideias. Tendes ideias, temores, ansiedades, e o terrível sentimento de solidão, de isolamento. E a pessoa que bem percebe isso pergunta a si própria: "Posso morrer para tudo o que é conhecido, morrer para o passado, não pouco a pouco, não conservando o que é agradável e rejeitando o desagradável, porém, morrer tanto para o prazer como para a dor, quer dizer, por fim ao passado sem discussão?"
Ao chegar a morte, não há discutir, não há dizer-lhe: "Deixe-me alguns dias mais". Em chegando a morte, vós partis. Da mesma maneira devemos esvaziar nossa mente de todo o pretérito. No esvaziar da mente, de bom grado, com naturalidade e sem esforço, estamos, então, talvez, libertados do conhecido, havendo, assim, a compreensão do desconhecido.
A maioria de nós não sabe o que é o amor. Conhecemos a dor e o prazer de amar, mas não vemos o fato que é o amor como vemos o fato que é uma montanha; desse modo, o amor é, para nós, algo desconhecido, tal como a morte. Mas, com a mente livre do conhecido apresenta-se-nos aquilo que não se pode conhecer mediante palavras, experiências, visões, qualquer forma de expressão. Se não conhecemos o amor, se não conhecemos a extraordinária plenitude e riqueza da morte, jamais saberemos o que é viver sem tortura, sem ansiedade, sem as aflições de cada dia.
Jiddu Krishnamurti — O descobrimento do amor
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