Todas as pesquisas sobre o não-Ser são vãs, se não daninhas, porque retardam a empreita principal, a Busca do SER. E, assim acontece, mesmo se chegarmos à conclusão correta sobre a natureza do mundo, se, pelo menos até então, não tivermos iniciado essa Busca.
Mas, para os que estão seriamente interesados em achar o SER, sem poder prosseguir, com determinação mental na Busca, esta pesquisa não é desnecessária nem incoveniente. Isso acontece porque a maioria dos seres, mesmo os que pretendem, seriamente, libertar-se do jugo, são estorvados, na Busca, por pensamentos indesejáveis, que surgem e preenchem a mente.
O fluxo habitual da mente dirigi-se para o mundo e não para o SER. mesmo quando conseguimos afastar a mente do mundo, concentrando-a no SER, ela se solta e vagueia até voltar para o mundo.
Mas, por que os pensamentos penetram na mente mesmo quando não são desejados? Os Sábios dizem que é porque alimentamos a crença de que o mundo é real.
O Sábio de Arunachala nos diz em uma de suas composições que se não fosse pela nossa crença de que o mundo é real, seria muito mais fácil para nós obtermos a Revelação do Ser. O maior assombro, diz o Sábio, é este — que nós, apesar de sermos sempre o SER REAL, esforçamo-nos para nos unir a Ele. Diz-nos que surgirá o dia em que riremos de nossos esforços atuais para atingirmos essa finalidade. Mas, isso que acontecerá nesse dia de risos, existe mesmo atualmente — a Verdade. Pois não temos que nos transformar nesse SER? Nós somos Ele.
Poder-se-á perguntar que essa crença nossa tem a ver com a Busca. Uma das razões é esta: Tudo que julgamos ser real tem entrada indubitavelmente franca em nossas mentes. Não podemos negar admissão aos pensamentos concernentes a coisas reais, por meio de uma simples aão da vontade. Mas, isso não é tudo. Atualmente, consideramos o mundo como Real num sentido em que ele não o é. E, por considerá-lo assim, tornamos impossível para nós a compreensão do SER. até que abandonemos essa crença. Acontece, assim, que é o próprio mundo que obscurece o SER para nós.
Como pode ser isso? Os Sábios dizem que o SER é a Realidade que sustenta o mundo. Assim como, quando se julga, por engano, que uma corda é uma cobra, a cobra obscurece a corda, da mesma forma, o mundo obscurece o SER. Só existe uma Realidade, que em nossa ignorância se apresenta como o mundo, e que aparecerá como realmente é — o SER — quando transcendermos a ignorância. Ao experimentarmos a Verdade, descobriremos que o que agora nos parece este mundo múltiplo, de nomes e formas, no tempo e no espaço, não passa do SER Real, que é a indivisível Realidade, sem nome, sem forma, sem tempo, sem espaço e sem mutações. E é axiomático que a aparência exclui a realidade. Enquanto supusermos que a corda é uma cobra, ela não pode aparecer como corda que realmente é? A falsa cobra efetivamente oculta a corda real. O mesmo acontece com o SER. Enquanto o SER nos parecer o mundo, não o reconheceremos como o SER. A aparência do mundo oculta efetivamente o SER. E continuará a fazê-lo até que nos libertemos da aparência. E não podemos realizar isso a menos que compreendamos que essa aparência não é o Real. Por essa razão, a Realidade — que também é o Ser — não existe para aquele que acredita que o mundo é real, assim como a corda não tem existência para aquele que a vê como uma cobra. Por esse motivo, ele nega a ordem moral do universo, ainda que ele possa crer honestamente que exista uma Realidade.
Assim,acontece que, devido a uma falsa crença, o SER — que é infinitamente grande e venturoso, a nossa mais valiosa propriedade — se pudermos chamá-LO de propriedade — está, por enquanto, perdido para nós. E que perda maior pode haver?
WHO