Todos sabem que vivemos em um tempo de pressa, correrias e agendas lotadas. Por quê? Pra quê? O que ganhamos com isso?
Outro dia fiquei sabendo que no Butão existe, no governo do país, um Departamento da Felicidade. Fiquei de boca aberta. rsrs Jamais teria passado pela minha cabeça que, nesse mundo louco em que vivemos atualmente, o governante de um país se preocupasse com a felicidade de seu povo. Que coisa mais linda!!!
Lá, ao que pude ver, a vida passa devagar, há pessoas que ficam um tempo enorme realizando pinturas pequeninas que preenchem as fachadas de suas casas, não há ninguém passando fome e todos estão sempre sorrindo.
Os mais apressadinhos dirão: sim, vivem numa época medieval! Talvez sim, mas com qualidade de vida, com saúde e felizes.
Afinal, o que é mais importante? Ter todos os confortos e luxos disponíveis nas grandes metrópoles e viver estressado, constantemente doente, tomando ansiolíticos para agüentar a pressão e ... curtindo uma solidão lascada ou viver com menos, mas ser alegre, saudável, bem disposto e se relacionando harmoniosamente com seus semelhantes?
Recentemente fiquei sem micro-ondas e me peguei olhando para as paredes da cozinha lhes perguntando como esquentar um arroz cozido pela manhã. Como é que eu fazia antes? Este e outros aparatos de que dispomos hoje facilitam e muito a rotina diária, mas vamos ser honestos – eles não são indispensáveis.
Tenho perfeita noção de que é dificílimo abrir mão de certos confortos a que estamos acostumados, mas nem vou me referir a eles e sim aos exageros da parafernália com que convivemos atualmente nos centros urbanos chamados “desenvolvidos”.
A partir da chegada da televisão ao nosso convívio, quando então a propaganda se tornou massiva, o consumismo virou regra geral e, pelo menos no lado ocidental do planeta, tornou-se comum: a compra acima das posses, o cheque sem fundos, o limite do cartão de crédito estourado, a insônia, ansiedade e as úlceras causadas pela preocupação com as dívidas, etc.
Certa vez, há bastante tempo atrás, entrei numa residência onde havia 5 televisores e 4 reprodutores VHS (não lembro mais o nome daquele troço), sendo que as três crianças da casa tinham esses aparelhos em seus dormitórios (constantemente dentro do campo eletromagnético gerado por eles). tsk tsk
É a isso que me refiro, o excesso de parafernálias ou a possuir bens cuja compra gerará stress. Há muito tempo atrás me chamou a atenção ver muitíssimas antenas de TV nos telhados de vilas populares ou favelas, como diriam os cariocas, hoje a gente vê nos interiores das casas televisores flat, tela LCD ou plasma (nos varais lençóis e toalhas em farrapos).
Quê, que é isso? Ignorância. Lastimável ignorância. E a ignorância não se restringe às classes menos favorecidas. As classes A e B fornecem celulares aos filhos ainda pequenos (a desculpa é a questão da segurança), colocam um aparelho de TV em cada ambiente da casa e trocam de carro todo ano (não dá status ter um carro do ano que passou). tsk tsk
E a pressa onde entra? Exatamente aí - no excesso de consumo. Maior demanda de dinheiro para pagar as contas exige mais tempo para consegui-lo: dois ou três empregos, horas extras, etc.
Paralelamente ao maior tempo despendido em ganhar mais dinheiro ainda há outros fatores que fazem com que atualmente as pessoas reclamem não ter mais tempo pra nada.
Um exemplo: se eu não estiver fazendo nada, a decorrência natural é que eu comece a pensar. Se eu pensar, de repente virão pensamentos negativos do tipo: “estou acima do peso, preciso começar meu regime” ou “não aguento mais o fdp do meu chefe, bem que ele podia ser atropelado amanhã”. Ainda há os pensamentos instigantes, nada agradáveis para muitos, quiçá a maioria: afinal o quê que eu estou fazendo aqui?
Assim, para não pensar (refletir incomoda a muitos) a solução é inventar muitos compromissos, afazeres, festas, baladas, etc. e o pior é que fazem o mesmo para com os filhos: ballet, aula de inglês, judô, pintura e sei lá mais o quê.
Aí, cadê o tempo para dar conta de tudo isso? Não existe.
Domenico de Masi, o sociólogo italiano, escreveu um livro muito interessante: O Ócio Criativo. O sociólogo defende que o ser humano só pode ser realmente criativo quando reúne três elementos: trabalho, estudo e diversão, mas para isso é preciso tempo. Tempo que teríamos se não estivéssemos tão concentrados no trabalho escravizante, mero gerador de mais dinheiro para consumir mais.
Já ministrei cursos sobre Administração do Tempo e, ouvindo os alunos, sei de todas as desculpas que vocês estão ruminando ao ler este texto. Pois bem, explica, mas não justifica. rsrs
Sei que o nosso condicionamento é muito forte, a americanização e a mídia se encarregaram bem disso, mas sempre é tempo para parar e refletir: realmente vale a pena o nosso atual modo de viver?
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