Qual é o futuro do homem, o futuro da humanidade?
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Qual é o futuro do homem, o futuro da humanidade?


JK: Qual o futuro da humanidade? A julgar pelo que se observa, ela está a caminho da destruição.

DB: Sim, parece ser esse o seu caminho. 

JK: Bastante sombrio, assustador e perigoso. Se alguém tiver filhos, qual será o futuro deles? Adaptar-se a tudo isso? E passar por toda essa miséria? Desse modo, a educação torna-se extremamente importante. Mas hoje, a educação é um mero acúmulo de conhecimentos.

DB: Cada instrumento que o homem inventou, descobriu ou desenvolveu esteve voltado para a destruição. 

JK: Totalmente. Os homens estão destruindo a natureza; há pouquíssimos tigres hoje em dia. 

DB: Estão destruindo as florestas e os solos agrícolas. 

JK: Ninguém parece se importar. 

DB: Bem, a maioria das pessoas estão apenas mergulhadas em seus planos de sobrevivência, mas há quem tenha planos de salvar a humanidade. Acho que há também uma tendência ao desespero, implícita no que está acontecendo agora, no fato de as pessoas não acreditarem que alguma coisa possa ser feita. 

JK: Sim. E, se pensam que alguma coisa possa ser feita, formam pequenos grupos com suas pequenas teorias. 

DB: Há aqueles que estão muito confiantes do que estão fazendo...

JK: Quase todos os primeiros-ministros estão bastante confiantes. Eles não sabem o que estão fazendo de fato!

DB: Sim, contudo há pessoas que têm muita confiança no que elas próprias estão fazendo. 

JK: Eu sei. E se alguém tem uma enorme confiança, eu acredito nessa confiança e o sigo. Qual é o futuro do homem, o futuro da humanidade? Será que alguém está preocupado com isso? Ou será que cada pessoa, cada grupo, está apenas preocupado com a própria sobrevivência? 

DB: Acho que a primeira preocupação quase sempre tem sido com a sobrevivência quer do indivíduo, quer do grupo. Essa tem sido a história da humanidade. 

JK: E essa é a razão das contínuas guerras, da constante insegurança. 

DB: Sim, mas isso, como o senhor disse, é o resultado do pensamento que, por ser incompleto, comete o equívoco de identificar o eu com o grupo, e assim por diante. 

JK: Acontece que o senhor ouve tudo isso, concorda com tudo isso, percebe a verdade de tudo isso. Mas os que detêm o poder jamais lhe darão ouvidos. 

DB: É verdade. 

JK: Eles estão criando cada vez mais miséria, o mundo está se tornando cada vez mais perigoso. Qual a utilidade de demonstrarmos que algo é verdadeiro, e que efeito tem isso? 

DB: Parece-me que, se pensarmos em termos dos efeitos, estaremos mexendo exatamente com aquilo que está por trás da preocupação — o tempo! A resposta então seria interferir rapidamente e fazer alguma coisa para alterar o curso dos acontecimentos.

JK: E, por conseguinte, formar uma sociedade, uma fundação, uma organização e tudo o mais. 

DB: Mas veja, nosso erro é sentir  que precisamos de alguma coisa, ainda que esse pensamento seja incompleto. Não sabemos realmente o que está acontecendo, e as pessoas elaboram teorias a esse respeito, mas não sabem. 

JK: Se essa é a pergunta errada, então, enquanto ser humano, enquanto integrante da humanidade, qual a minha responsabilidade, independentemente do efeito e tudo o mais? 

DB: Sim, não podemos considerar os efeitos. Mas a mesma coisa acontece em relação a "A" e "B"; "A" vê e "B", não vê. 

JK: Sim.

DB: Pois bem, suponhamos que "A" vê alguma coisa que a maior parte da humanidade não vê. Portanto, ao que parece, poder-se-ia dizer que a humanidade está, de certo modo, adormecida

JK: Ela está presa na ilusão. 

DB: Ilusão. E a questão é essa: se alguém vê alguma coisa, sua responsabilidade é ajudar os outros a despertar, libertando-os das malhas da ilusão. 

JK: Exatamente. Esse tem sido o problema. É por isso que os budistas projetaram a ideia do Bodhisatva, que é a essência de toda compaixão e espera salvar a humanidade. Isso é maravilhoso. É uma felicidade saber que alguém está fazendo isso. Mas na realidade, não faremos nada que não seja cômodo, agradável, seguro, quer psicológica, quer fisicamente. 

DB: Essa é, basicamente, a origem da ilusão. 

JK: Como fazer com que os outros vejam isso tudo? Eles não têm tempo, não têm a energia, não têm sequer a disposição. Eles querem se divertir. Como fazer com que "X" veja isso tudo tão nitidamente a ponto de dizer: "Está certo, eu entendi, vou trabalhar. E percebo que sou responsável", e tudo o mais. Acho que essa é a tragédia dos que veem e dos que não veem. 

Krishnamurti e David Bohm em, O Futuro da Humanidade




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