A existência são relações; existir é estar em relação. As relações constituem a sociedade. A estrutura de nossa sociedade atual, baseada que está na mútua utilização, produz violência, destruição e sofrimentos; e se o chamado “Estado revolucionário” não alterar fundamentalmente essas condições de utilização, só poderá produzir, talvez num nível diferente, mais conflito ainda, mais confusão e antagonismo. Enquanto, psicologicamente, tivermos necessidade e fizermos uso uns dos outros, não haverá relações. As relações significam comunhão; e como é possível a comunhão quando há exploração? A exploração implica medo, e o medo conduz, inevitavelmente, a ilusões e sofrimentos de toda ordem. O conflito só existe na exploração, e nunca nas relações. Existe conflito, oposição, inimizade, entre nós, quando fazemos uso uns dos outros, como meios de prazer, de realização. Esse conflito, evidentemente, não poderá ser resolvido, enquanto nos servirmos dele como meio de alcançarmos um objetivo, projetado pelo “eu”; e todos os ideais, todas as Utopias são projeções do “eu”. É essencial perceber isso, porque se poderá então “experimentar” esta verdade, de que o conflito, sob qualquer forma que seja, destrói as relações, a compreensão. Só há compreensão quando a mente se acha quieta; e não está quieta a mente enquanto se mantém ligada a uma ideologia, dogma ou crença, ou presa ao padrão de sua própria experiência, suas lembranças. A mente não está quieta, quando é disciplinada, controlada, refreada: esta é uma mente morta, pois está a isolar-se por meio de várias formas de resistência; por consequência, ela cria, inevitavelmente, sofrimentos para si própria e para outros.
A mente só está tranquila quando não está presa na rede do pensamento — a rede tecida por sua própria atividade. Quando a mente está tranquila — mas não foi obrigada a estar tranquila — surge então um fator verdadeiro — o amor.
Krishnamurti – Reflexões sobre a vida