autoconhecimento
Só há libertação quando a mente está livre da escolha
Para mim, existe somente uma verdade, — a libertação do desejo, do eu-consciência; aí não existe distinção de dualidade. Tudo mais não passa de ilusão, infinita em sua variedade, glória e distinção.
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O homem que estiver vivendo com plenitude no presente, é um artista na vida. Uma apreciação sobre arte não significa necessariamente, a compreensão da vida, a qual é completa liberdade do eu-consciência, do cativeiro do desejo.
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A ignorância é o resultado do desejo, do anseio.
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A ignorância não deve ser confundida a mera falta de informação. A ignorância é a falta de compreensão de si próprio.
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O desejo surge da ignorância. Ela não pode existir independentemente; precisa alimentar-se do condicionamento prévio, que é ignorância.
A ignorância consiste e muitas formas de medo, de crença, de desejo e de apego. Estas criam o conflito nas relações mútuas.
Quando estivermos integralmente percebidos do processo da ignorância, voluntária, espontaneamente, há o começo dessa inteligência que experimenta todas as influências condicionantes. Estamos interessados no despertar dessa inteligência, desse amor, o único que pode libertar da luta da mente e o coração. O despertar dessa inteligência, desse amor, não é o resultado de uma moralidade disciplinada, sistematizada, nem um resultado que se possa buscar, mas é um processo de percebimento constante.
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O desejo, o anseio, a tendência sob qualquer das suas formas, têm de criar conflito entre si próprios e aquilo que os provoca ou seja o objeto do desejo; este conflito entre a ânsia e o objeto, pelo qual se anseia, aparece na consciência como individualidade. Portanto, é realmente este atrito que procura perpetuar-se a si mesmo. Aquilo que intensamente desejamos que continue nada mais é do que o atrito, a tensão entre as várias formas do anseio e seus agentes provocadores. Este atrito, esta tensão, é essa consciência que sustenta a individualidade.
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Vocês precisam se tornar conscientes de que são prisioneiros, precisam perceber que estão continuamente procurando escapar da falta de plenitude e de que a busca de vocês pela verdade é apenas uma fuga. O que vocês denominam busca da verdade, de Deus, por meio da próprio disciplina e da consecução, é apenas uma fuga do desejo.
A causa do desejo está na própria busca da aquisição, mas vocês estão sempre fugindo dessa causa. A ação proveniente da disciplina de si mesma, do medo, ou do anseio, é a causa do desejo. Ora, quando vocês se apercebem de que tal ação é em si mesma a causa do desejo, deste estão libertos. No momento em que se tornam apercebidos do veneno, ele cessa de ser um problema para vocês.
É um problema somente enquanto não forem cientes da ação dele na vida de vocês.
A maioria das pessoas, porém, ignoram a causa do desejo e dessa ignorância surge o esforço incessante.
Quando se tornam apercebidas da causa — que é o esforço de conseguir — então, nesse percebimento, há plenitude, plenitude que não requer esforço.
Então, na ação de vocês, não há mais esforço, nem autoanálise, nem disciplina.
Da falta de plenitude surge a busca do conforto, da autoridade, e a tentativa para alcançar este objetiva priva a ação de seu significado intrínseco. Quando, porém, vocês se tornam integralmente apercebidos, na mente e no coração de vocês, da causa da falta de plenitude, então este desejo cessa. Deste percebimento advém a ação, que é infinita, por ter significado em si mesma.
Por outras palavras, enquanto a mente e o coração estiverem presos no desejo, tem de haver vacuidade. Vocês querem coisas, ideias, pessoas só quando estão conscientes da própria vacuidade e esse querer cria a escolha. Quando houver anseio, tem de haver escolha e esta lhes precipita no conflito das experiências. Vocês tem a capacidade de escolher e assim a si mesmos se limitam pela própria escolha. Só quando a mente está livre da escolha há libertação.
Todo desejo, todo anseio é obscurescente, e a escolha de vocês provém do medo, do desejo de consolo, conforto, recompensa, ou como resultado de astucioso cálculo. Por causa da vacuidade interna de vocês, há o desejo. Desde que a escolha de vocês é sempre baseada na ideia de lucro, não pode haver verdadeiro discernimento, nem verdadeira percepção; há apenas o desejo. Quando escolhem, do modo porque o fazem, a escolha de vocês cria meramente outro conjunto de circunstancias, que resultam em novo conflito e escolha. A escolha de vocês, que provem da limitação, estabelece uma nova série de limitações, e estas criam a consciência que é o "eu".
Vocês chamam de experiência a multiplicação da escolha. Recorrem a estas experiências para que lhes livrem do cativeiro, porém, elas jamais o poderão fazer, porque vocês as julgam como um contínuo movimento de aquisição.
Permitam que ilustre isto com um exemplo que talvez transmita meu pensamento. Suponham que percam, pela morte, um ente querido. Esta morte é um fato. Ora, experimentam imediatamente um sofrimento de perda, uma ansiedade para estar novamente junto dessa pessoa. Querem a volta do seu amigo e, como não o podem ter novamente, a mente cria ou aceita uma ideia para satisfazer esse anseio emocional.
A pessoa a quem amam foi arrebatada. Então, porque sofrem, porque estão conscientes de uma intensa vacuidade, de uma solidão, querem ter novamente seu amigo. Isto é, querem por fim ao sofrimento de vocês, alivia-lo, esquecê-lo; querem amortecer a consciência dessa vacuidade, que se achava oculta, quando estavam na companhia do amigo querido. A ansiedade de vocês nasce do desejo de consolo. Mas, como não podem ter o conforto da presença do amigo, pensam em alguma ideia que possa lhes satisfazer — reencarnação, vida após a morte, unidade de toda a vida. Em tais ideias — não digo que sejam certas ou erradas — em tais ideias, repito, vocês acham consolo. Por não poderem ter a pessoa que amam, vocês se consolam mentalmente com ideias. Isto é, sem discernimento verdadeiro, aceitam qualquer ideia, qualquer principio que, no momento, lhes pareça satisfazer, para aliviar a consciência de vacuidade que causa o sofrimento. Assim, a ação de vocês é baseada na ideia de consolo, na ideia de multiplicação de experiências; a ação de vocês é determinada pela escolha, que tem suas raízes no desejo. Porém, no momento em que, com a mente e coração, com todo o ser de vocês, se tornam apercebidos da futilidade do desejo, então cessa a vacuidade. Agora estão apenas parcialmente conscientes desta vacuidade, por isso procuram obter satisfação no acompanhamento de novelas, se atordoando nas diversões criadas pelo homem em nome da civilização; e a essa busca de sensação vocês chamam de experiência.
Vocês precisam perceber, com o coração também como com a mente, que a causa da vacuidade é o desejo, que redunda em escolha e impede o verdadeiro discernimento. Quando estiverem apercebidos disto, então cessará o desejo.
Quando se sente uma vacuidade, um desejo, aceita-se algo, sem discernimento verdadeiro. E a maioria das ações de que são constituídas as nossas vidas estão baseadas no desejo. Podemos pensar que as nossas escolhas se baseiam na razão, no discernimento; podemos imaginar que pensamos nas possibilidades e calculamos as oportunidades antes de fazer uma escolha. Entretanto, porque há em nós um desejo ardente, um querer, uma ansiedade, não podemos conhecer a verdadeira percepção ou discernimento. Quando entenderem isto, quando se aperceberem com todo o ser de vocês, tanto emocional como mentalmente, quando compreenderem a futilidade do desejo, ele cessa. Então, estarão livres da sensação de vacuidade. Nessa chama de percebimento não há disciplina, não há esforço.
Mas não compreendemos isto plenamente; não nos tornamos apercebidos, porque experimentamos um prazer no desejo, porque esperamos continuadamente que o prazer no desejo suplante a dor. Esforçamo-nos para conseguir o prazer, embora saibamos que ele não está livre da dor.
Se vocês se tornarem inteiramente apercebidos de todo o significado disto, terão forjado um milagre para si mesmos; então experimentarão a libertação do desejo, e, em consequência a libertação da escolha; então já não serão essa consciência limitada, o "eu".
Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK
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