Antologia do Êxtase
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Antologia do Êxtase


UM TESTEMUNHO PESSOAL
 
Cerca de vinte anos atrás, uma experiência inusitada provocou uma reviravolta em minha vida, consagrada à pesquisa científica e ao ensino da psicologia na universidade.

Não fosse tal experiência, sem dúvida, jamais teria adquirido a convicção, a compreensão ou a coragem suficientes para colocar em risco minha reputação científica publicando esta antologia, da qual uma das vantagens será mostrar a todos aqueles que passaram pela mesma experiência, e anseiam por comunicá-la, que eles não estão sozinhos no mundo.

Além disso, pensamos ter reunido aqui provas consideráveis de que se trata de um estado de excepcional riqueza, tanto do ponto de vista do conhecimento e da sabedoria, como do despertar de um amor ilimitado, oculto e guardado em cada um de nós, sem qualquer exceção. Esta coletânea contém as provas da existência, em nós mesmos, de um potencial de experiência direta do real, sem a mediação de nossas funções mentais propriamente ditas, isto é, para além do pensamento, da memória ou do intelecto.

Numa noite de Natal, estava eu reunido com amigos, participando alegremente daquela comemoração. Enquanto dançava com uma amiga, dei-me conta, subitamente, de que o meu ritmo e o dela formavam uma estranha e indissolúvel unidade. Jamais havia vivido algo tão harmonioso; tal harmonia, por sua vez, proporcionava-me uma felicidade indescritível.
 
Pouco tempo depois, sentado diante dela, percebi, de repente, que seu rosto estava envolto por uma luminosidade azulada; um azul semelhante ao que se desprende nas soldaduras feitas com acetileno.

A mistura do azul com a tonalidade natural de seu rosto conferia uma coloração acinzentada à sua figura, o que aumentava ainda mais o caráter estranho e inusitado da experiência; nesse exato momento, pensei que estava sob os efeitos de uma alucinação esquizofrênica e que deveria ser internado imediatamente. Entrei em pânico. Entretanto, como vinha praticando ioga há muitos anos, compreendi rapidamente que estava começando a perceber a aura de minha amiga; tal compreensão me tranqüilizou, possibilitando, assim, o prosseguimento da experiência.

A coloração cinzenta era ainda mais acentuada ao redor de seu olho direito. Eu “soube”, então, por uma via intuitiva, que seu olho estava enfermo; mais tarde, ela o confirmou, contando que deveria submeter-se a uma cirurgia oftalmológica. Eu me tornara clarividente...

De súbito, uma luz dourada e fascinante surgiu em um dos cantos da sala; assemelhava-se a uma cortina de luz, uma verdadeira visão do gênero descrito na Bíblia. Ela possuía um caráter sagrado e emanava qualquer coisa que me transmitia o sentimento muito claro de uma presença invisível a meus olhos físicos, porém perceptível “diretamente”, se é que posso me exprimir assim. O sentimento de algo sagrado se intensificou; entrei num estado de arrebatamento, espanto e elevação espiritual extrema.

Depois, ví partículas luminosas e cintilantes no ar, que logo identifiquei como sendo a manifestação da microestrutura subatômica. Um sentimento de poder ilimitado tomou conta de mim, e reconheci que podia penetrar, com os olhos do espírito, nos nós da madeira de pinho do chalé onde me encontrava.
Um detalhe que me parece importante: primeiro, todas essas visões eram recebidas à margem de meu campo visual, isto é, era preciso que olhasse “de lado” os “objetos” ou luzes em questão; e segundo, embora-me fossem externas, dei-me conta de que não poderia afirmar o caráter de tais percepções: se era externo ou interno. Elas não estavam, de fato, nem dentro, nem fora: tratava-se de uma outra dimensão espacial.

Olhando de novo para minha amiga, enxerguei cinco cabeças humanas cortadas, localizadas aproximadamente no nível de seu abdômen; identifiquei-as como sendo de mongóis ou caucásios. Minha amiga me contou que sua mãe era caucasiana. Porém, quando olhei novamente para seu rosto, tive a nítida impressão de enxergar a Mãe – de Auroville, que trabalhara com Sri Aurobindo – e de que o local onde me encontrava tinha qualquer coisa a ver com seu ashram ou comunidade. Dez anos mais tarde, fiquei sabendo que Michael Murphy, o fundador de Esalem – em CarmeI, na Califórnia, onde eu estava naquela ocasião – participara efetivamente em Auroville, na qual se inspirou para criar Esalem... Eu me perguntava sobre o significado daquela visão das cabeças cortadas. Além de nunca ter visto nada semelhante, minha tradição cultural não tinha vínculo algum com a dos mongóis. A resposta chegou um ano mais tarde, na índia, num templo de Kali. Reconheci, subitamente, aquelas cabeças cortadas: elas formam o colar de Kali e simbolizam o desapego. Com efeito, descobri bem mais tarde a relação com sua raiz no mental, isto é, na cabeça. Cortar a cabeça significa se separar da influência da dualidade sujeito-objeto e da tendência do sujeito a apegar-se aos objetos, idéias ou pessoas que lhe proporcionam prazer, e a rejeitar as causas de sofrimento.

Lembro-me agora que, à época dessa visão, eu me encontrava particularmente desapegado e aberto aos outros.

Porém foi apenas quando conheci Kanjur Rinpoche e Tulku Pemala, dois lamas tibetanos, em Darjeeling, ao norte da Índia, que me dei conta de que os “mongóis” eram tibetanos. Quando relatei a experiência a Tulku Pemala, ele me indagou: “Quantas eram as cabeças cortadas?” Depois, acrescentou: “O senhor teve uma visão parcial de uma realidade muito mais ampla...”

Como nesta vida eu jamais tivera contato com esse tipo de simbolismo, reconheci pela primeira vez, em mim mesmo, a existência dos arquétipos descritos por C.G. Jung como sendo imagens representativas de potenciais energéticos, parte integrante do inconsciente coletivo. Eu me pergunto, hoje, se não se tratava de meu inconsciente individual e de uma memória arcáica pessoal; eu não fora preparado para ter visões orientais. De origem judia e cristã, fui criado na Alsácia... Mais tarde, sob a influência de uma iniciação recebida de Muktananda, tive uma outra experiência, a da elevação da energia primordial da kundalini, prática sobre a qual o leitor encontrará uma breve exposição teórica no capítulo referente às experiências hinduístas. Durante várias horas, vi unidades luminosas elevando-se ao longo de meu corpo; tratava-se de uma luz inteligente, e eu estava consciente de que ela “trabalhava” um bloqueio no nível do centro energético da garganta. Uma vez mais, tal como na experiência de Esalem, fui inundado por uma alegria imensa e por uma irresistível disposição para auxiliar os outros a passarem por esse tipo de experiência. Um amor imenso por toda a humanidade tomou conta de mim; permaneci nesse estado de graça por vários dias.

Desculpo-me junto ao leitor por começar com um testemunho tão pessoal, mas desejava falar diretamente ao seu coração.

Alguns poderão censurar-nos por publicar experiências íntimas, cujo caráter é sagrado. Sem dúvida alguma, o inconveniente maior deve-se ao fato de que esta leitura pode-se constituir num obstáculo àqueles que já estão ou querem ingressar num caminhar, o conhecimento do conteúdo da experiência transpessoal pode criar disposições no espírito das pessoas, bem como preconceitos capazes de impedir a experiência real, entravá-la seriamente ou, ainda, deformá-la. Pode acontecer, também, a intervenção do mental que “reconhece” a experiência, o que bloquearia o seu prosseguimento.
 
Mas por outro lado, a ignorância e o ceticismo com respeito àvida mística são tais que somente os testemunhos e investigações científicas – dos quais fornecemos apenas um resumo em seguida a esta apresentação – permitirão convencer os mais reticentes; sobretudo tendo em vista que estes poderão perceber, por conta própria, as semelhanças entre os testemunhos. E como se um astronauta, a caminho da Lua, contasse que a Terra é azul e tal informação, como de fato ocorreu, fosse confirmada por outros cosmonautas e também por fotos. A comparação dos testemunhos entre si e o registro fisiológico dos indivíduos em estado transpessoal são quase igualmente convincentes.
 
Eis porque decidimos ir além do primeiro argumento. De qualquer modo, a maior parte destes textos já foram publicados. O inédito é a reunião deles em um só volume.

Pierre Weil - Antologia do Êxtase - Editora Palas Athenas
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