Compreendendo o infinito processo da vida
autoconhecimento

Compreendendo o infinito processo da vida


A vida está a todo momento num estado de nascença, de surgir, de vir-a-ser.
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O movimento da vida está a cada momento, surgindo, vindo à existência; portanto, num estado de ação, de fluxo perpétuo.
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No viver sem esforço, espontaneamente, existe um êxtase que é verdadeira beleza, o qual é supremo discernimento dos valores retos. Nisto há eternidade, imortalidade, movimento incessante da vida, no qual não há identificação de si próprio, sob a forma do "eu".
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Existe um movimento, um processo da vida sem fim, que pode ser chamado infinito.

Pela autoridade e imitação, nascida do medo, cria a mente para si própria múltiplas falsas reações, e, por meio delas, limita-se a si própria. Identificando-se com esta limitação, é incapaz de acompanhar o movimento rápido da vida. E porque a mente, compelida pelo temor, e em seu desejo de segurança e conforto, busca um fim, um absoluto com o qual possa identificar-se, tornar-se incapaz de acompanhar o incessante movimento da vida.

Enquanto a mente-coração não puder libertar-se dessas limitações em plena consciência, não pode ter lugar a compreensão desse contínuo processo de vir-a-ser. Portanto, não perguntem o que é o infinito, porém, descubram por si mesmos as limitações que mantém a mente-coração em cativeiro, impedindo-a de viver nesse movimento da vida.
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Para compreender a Verdade tem de haver observação silenciosa, e a descrição dela somente a torna confusa e limitada.

Para compreendermos o infinito processo da vida, temos de começar negativamente, sem afirmações nem postulados e daí construir a estrutura do nosso pensamento-emoção, da nossa ação e conduta. Se isto não for profundamente compreendido, o que eu disser se transformará em meras crenças e ideais mecânicos, criando novos absurdos baseados na fé e na autoridade. Regressaremos, assim, inconscientemente às primitivas atitudes e reações nascidas do medo, com seus múltiplos enganos, embora revestidas de palavras novas.
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Viver simplesmente é a maior das artes. É dificílimo, pois requer profunda inteligência e não apenas compreensão superficial da vida. Para viver inteligentemente e com simplicidade, o indivíduo deve estar livre de todas as restrições, resistências e limitações desenvolvidas por parte de cada um para sua própria proteção, e que impedem as suas verdadeiras relações com a sociedade. Por estar o indivíduo encerrado nessas restrições, nessas paredes de ignorância, não pode haver para ele verdadeira simplicidade. Para trazer à existência uma vida de inteligência e, portanto, de simplicidade, tem de efetuar-se a derrocada dessas resistências e limitações. O processo de sua dissipação requer grande reflexão, atividade e esforço. O homem saturado de preconceitos e que é nacionalista, amarrado à autoridade das tradições e dos conceitos, em cujo coração existe o medo, por certo que não pode viver com simplicidade. O ambicioso, de ideias estreitas, que adora o êxito, não pode viver inteligentemente. Em semelhante pessoa não há possibilidade de uma espontaneidade profunda. A espontaneidade não é mera reação superficial; é preenchimento profundo, que é simplicidade inteligente de ação.

A maioria de nós tem paredes de resistência para proteger a si mesmo, contra o movimento da vida; de algumas delas somos conscientes, de outras não. Pensamos que nos é possível viver simplesmente pelo mero evitar ou negligenciar as que nos são conhecidas; ou pensamos ainda poder viver plenamente adentrando as nossas mentes de acordo com certos padrões de vida. Não é simplicidade o viver isoladamente, apartado da sociedade, ou o possuir poucos bens ou o ajustar-se a determinados princípios. Isto é mera fuga da vida. A verdadeira simplicidade da inteligência, isto é, o ajustamento profundo ao movimento da vida, só advém quando, mediante o apercebimento compreensivo e correto esforço, começamos a desfazer as múltiplas camadas de resistência que protege a si própria. Somente então teremos a possibilidade de viver espontânea e inteligentemente.
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Simplicidade de vida não é o oposto do possuir muitas coisas; não quero, em absoluto, dizer isto.

Quando a mente está liberta da ideia, da lembrança do desejo, verificarão que a vida de vocês se torna extraordinariamente simples, são poucas as suas necessidades. Há então uma concepção completamente diferente da necessidade. Não existe nem o dar nem o partilhar, porém, a perfeita simplicidade da flor, a qual está tão supremamente concentrada, que é inconsciente de si própria.
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Quando vocês, como indivíduos, começarem a se libertar da doença do medo, não perguntarão a outrem se devem ou não deixar sua riqueza para seus filhos. A ação de vocês, então, terá uma profunda e diferente significação. A atitude de vocês, então, em relação à família, às classes, ao trabalho, à riqueza ou à pobreza, sofrerá profunda mudança. Se não houver esta significativa mudança, que é produzida pela compreensão, e não pela compulsão, então os problemas artificiais só podem ser respondidos superficialmente, sem nenhuma consequência ou valor.
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Tanto o pobre como o rico, desejam que as coisas permaneçam como estão; os pobres temem perder o pouco que possuem e os ricos perder tudo o que tem. Assim, é quando há o temor de perda, o medo de ficar na incerteza, que sobrevém o desejo de não interferir na ordem das coisas que Deus ou a natureza criou.
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Para trazer à existência uma ordem humana feliz, tem de haver, dentro de cada um de vocês, profunda e fundamental mudança. Onde existe contínua adaptação ao movimento da vida, da verdade, jamais há medo.

Todos vocês necessitam sentir o veneno de coerção, da autoridade, da imitação. Todos devem sentir, por meio do sofrimento, a imensa necessidade de uma completa e radical mudança do pensamento e do desejo, que os liberte da sutil busca das substituições. Então é que advirá o verdadeiro preenchimento do homem.
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Vocês não podem realizar, essa formosura da vida por meio do acúmulo, pelo crescimento, pela expansão do eu-consciência, mas busquem o entendimento da experiência no presente.

Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK





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