autoconhecimento
Porque o"eu" carrega o peso de seu saber e de sua crença?
O que é o seu saber e o que é a sua crença? Se você examina o seu saber e a sua crença, que são eles? Só lembranças. Não é verdade? De que é que você tem conhecimento? Das suas lembranças, das experiências de outras pessoas, registradas num livro! Se você pensa a respeito do seu saber, o que é ele? Lembrança. Você está obtendo explicações, ministradas por outras pessoas, e tem suas próprias experiências, baseadas em suas lembranças. Você se depara com um acidente e traduz esse acidente de acordo com a sua memória, a qual chama experiência. Seu saber é um processo de reconhecimento. Sabemos o que são as crenças. Elas são criadas pela mente, no seu desejo de estar certa, de estar protegida, de estar em segurança.
Assim, como pode essa mente, presa que está pelo saber, essa mente, que é acumulação do passado, traduzindo o presente segundo sua própria conveniência, como pode essa mente, com sua carga de saber, compreender o que é a verdade? A verdade tem de ser algo que está fora do tempo. Ela não pode ser "projetada" pela mente; não pode ser talhada pela minha experiência; tem de ser algo incognoscível, em face de minha experiência passada. Se eu a conheço, do passado, isso então é reconhecimento e portanto não é a verdade. Se ela é apenas uma crença, é então uma "projeção" dos meus próprios desejos.
Porque nos orgulhamos tanto do nosso saber? Estamos aprisionados em nossas crenças, no "estado de conhecimento", no sentido em que é geralmente compreendido o conhecimento. Você teme o "ser nada". Eis porque faz questão de ter tantos títulos; tem a preocupação de adquirir nomes, idéias, reputação, de fazer exibição de si mesmo. Com toda essa carga na mente, você diz: "Estou procurando a verdade, desejo compreender a verdade". Se examina atentamente todo o processo de aquisição de saber e da formação da crença, o que acontece? Você verificará, sem dúvida, que essas coisas são artifícios da mente — o crer, o saber; elas lhe conferem um certo prestígio, certos poderes; os outros lhe respeitam como um homem extraordinário, muito lido e muito culto. Ficando mais velho, você se acha com direito a mais respeito, porque, naturalmente, se tornou mais sábio, pelo menos assim o pensa. O que você fez foi apenas amadurecer na sua própria experiência. A crença destrói os entes humanos, divide os entes humanos. O homem que crê nunca pode amar; porque, para ele, a crença é mais significativa do que o ser bondoso, cordial, solícito; a crença proporciona certa força, certa vitalidade, um falso sentimento de segurança.
Assim, examinando bem a coisa, o que você encontra? Só palavras, só memória. A verdade é algo que deve achar-se além dos limites da imaginação, além do processo da mente. Ela tem de ser eternamente nova, uma coisa não suscetível de reconhecer-se, de descrever-se. Se você cita Sankara, Buda, XYZ, já começou a comparar — o que demonstra que, pela comparação, você desistiu de pensar, de sentir, de experimentar. Esse é um dos artifícios da mente. Seu saber está destruído a percepção imediata daquilo que é a verdade.
Eis porque importa compreender, no seu todo, o processo do saber e da crença, para o abandonarmos. Seja simples, veja as coisas com simplicidade e não com uma mente ardilosa. Você verá, assim, que a mente, que amontoou experiência, tantas explicações, que está limitada por tantas crenças, começa a renovar-se. Ela já não está à procura do novo, já não está reconhecendo, deixou de reconhecer; acha-se, por conseguinte, em estado de constante experimentar, não relacionado com o passado; há um movimento novo, que não é susceptível de repetir-se.
Importa, por esta razão, que todo saber, toda crença sejam devidamente compreendidos. Você não pode suprimir o saber; precisa compreende-lo; não pode fechar a porta ao saber. Qual é, agora, a sua reação? Sairá daqui e continuará a proceder da maneira habitual, porque têm medo de afastar-se do velho padrão.
Para achar a verdade, não há guru, não há exemplo, não há caminho; a virtude não conduzirá á verdade; a prática da virtude é auto-perpetuação. O saber, evidentemente, só nos dá respeitabilidade. O homem "respeitável" e fechado dentro de sua própria importância, nunca encontrará a verdade. A mente precisa estar de todo vazia, não procurar, não "projetar". Só quando a mente está totalmente tranquila, apresenta-se a possibilidade daquilo que é imensurável.
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